À polícia, vereador do RS que discursou contra baianos pede desculpas e diz que fala foi improvisada
Sandro Fantinel pediu que 'empresas não contratem mais aquela gente lá de cima', em referência a baianos, após saber de trabalhadores resgatados em condições de escravidão
O vereador Sandro Fantinel (sem partido), que é investigado por falas preconceituosas durante sessão da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul sobre trabalhadores resgatados em situação de escravidão, prestou depoimento à Polícia Civil na quarta-feira (8). Aos policiais, classificou as falas como um "erro", voltou a pedir desculpas pelo episódio e afirmou que o discurso foi feito de improviso.
De acordo com o delegado Rafael Keller, que responde interinamente pela 1ª Delegacia de Polícia (DP) de Caxias do Sul, o depoimento do parlamentar foi o último colhido antes da conclusão do inquérito. Durante a semana, duas pessoas foram ouvidas pela Polícia Civil. Imagens e o discurso do vereador também foram anexados ao processo.
"Ele afirmou que não teve intenção, em momento algum, de discriminar alguém. Disse também que foi um lapso, que tentou se expressar sobre o problema na contratação pelos agricultores", afirmou o delegado.
O advogado do parlamentar, Vinícius de Figueiredo, disse que o vereador está abalado psicologicamente.
Na terça-feira (28), Fantinel usou a tribuna da Câmara de Vereadores para pedir que os produtores da região "não contratem mais aquela gente lá de cima", se referindo a trabalhadores vindos da Bahia. A maioria dos trabalhadores contratados para a colheita da uva veio do estado nordestino.
O vereador se referia aos mais de 200 homens encontrados em situação semelhante à escravidão em um alojamento de Bento Gonçalves.
No dia seguinte às declarações, ele foi expulso do partido que fazia parte, o Patriota, e está sem partido. Na sexta (2), a Câmara de Vereadores de Caxias do Sul aceitou por unanimidade os pedidos de cassação do parlamentar. Com o acolhimento, foi criada uma comissão parlamentar processante para avaliar a cassação. O grupo tem 90 dias para a decisão.
O vereador não comparece à Câmara de Vereadores desde o dia 1º de março. Na quarta-feira, ele apresentou um atestado médico de 10 dias, a contar desde o início desta semana. O atestado aponta a justificativa de estresse pós-traumático. Como ele está ausente desde o dia 1º de março, o período não compreendido será descontado do salário do parlamentar, segundo a assessoria de comunicação da Câmara de Vereadores de Caxias.
Em nota, o advogado dele, Vinícius Figueiredo, afirmou que "assim que encerrou sua fala da tribuna, percebendo o erro, conforme previsão no regimento interno da Câmara, [o vereador] solicitou que as palavras fossem suprimidas dos anais da sessão, demonstrando estar arrependido e disse que aquela fala não lhe representa".
Comments