Em sessão tensa, votação que dificultaria mudança no hino do RS é adiada por falta de quórum
Luiz Marenco (PDT) retirou, momentos antes da votação, emenda que autorizava mudança mediante referendo. Rodrigo Lorenzoni (PL), autor da PEC, considerou "quebra de acordo". Votação pode ser retomada na próxima terça (11)

A votação da proposta de emenda constitucional (PEC) do deputado Rodrigo Lorenzoni (PL) que tornaria "protegidos e imutáveis em sua integralidade" símbolos do estado, como o hino, foi adiada pela segunda vez nesta terça-feira (4), por falta de quórum na Assembleia Legislativa (AL).
Marcada por clima tenso entre os deputados, a sessão teve reviravoltas antes mesmo do início da votação. Na próxima terça-feira (11), a PEC deve voltar à debate na AL. Veja detalhes abaixo.
O trecho do hino do Rio Grande do Sul considerado racista por parlamentares da bancada negra gaúcha e movimentos sociais diz que "povo que não tem virtude acaba por ser escravo".
"Queremos garantir que nossa tradição e nossa história sigam sendo motivo de orgulho, sigam sendo reverenciadas por todos nós e, assim, reconhecendo sua importância", disse Lorenzoni ao apresentar o projeto.
Antes do início da votação desta terça, o deputado Luiz Marenco (PDT) pediu a retirada de uma emenda proposta por ele que tornava possível mudanças nos símbolos do estado mediante realização de um referendo público. De acordo com Lorenzoni, a emenda havia sido um acordo entre as lideranças dos partidos, e a retirada foi considerada uma "quebra de palavra".
Grupos ocuparam as galerias e se manifestaram durante a sessão, com gritos contra e a favor da proposta. Mesmo antes do debate, a sessão precisou ser suspensa por conta de interrupções vindas das galerias. Durante a fala de Lorenzoni, parte do público contrário à PEC se manifestou contra o parlamentar com gritos de "racista".
Após debate, houve nova contagem de quórum, e não se chegou ao número necessário de parlamentares para que fosse feita a votação. Deputados que apoiam o projeto se declararam ausentes.
Relembre
A discussão ganhou repercussão após vereadores de Porto Alegre permanecerem sentados durante a execução do hino na cerimônia de posse da mais recente legislatura, em 2021, atitude que foi repetida por deputados estaduais em 2022.
Após o protesto dos vereadores, em 2021, o deputado estadual Luiz Fernando Mainardi (PT) tornou pública sua intenção de aprestar projeto de lei que mudava o verso para "povo que não tem virtude acaba por escravizar", mas acabou não levando a proposta à frente.
Durante a diplomação dos deputados estaduais, na assembleia gaúcha, em 2022, novamente os parlamentares ficaram sentados durante a execução do hino.
Construção histórica
Na análise da historiadora do Arquivo Público do RS Clarissa Sommer, o hino é uma construção histórica, que muda de acordo com as mudanças da sociedade.
"O próprio hino sul-riograndense atualmente executado é uma versão. Tanto a melodia quanto a letra foram adaptadas várias vezes desde o século XIX".
Letra do hino do Rio Grande do Sul
Como a aurora precursora Do farol da divindade Foi o 20 de setembro O precursor da liberdade
Mostremos valor, constância Nesta ímpia e injusta guerra Sirvam nossas façanhas De modelo a toda Terra
Mas não basta, pra ser livre Ser forte, aguerrido e bravo Povo que não tem virtude Acaba por ser escravo
Mostremos valor, constância Nesta ímpia e injusta guerra Sirvam nossas façanhas De modelo a toda Terra
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