Fim das unhas de gel? Veja o que muda após a proibição de substâncias pela Anvisa
- Saimon Ferreira

- há 5 dias
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Órgão determinou que produtos com TPO e DMPT, utilizados em géis para alongamento e esmaltação, sejam retirados de circulação em até 90 dias

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou nesta semana a proibição de duas substâncias frequentemente usadas em produtos para alongamento de unhas, blindagem e esmaltação com gel. O TPO e o DMPT, também conhecido como DMTA, estão associados a riscos de câncer e problemas de fertilidade.
A decisão prevê a suspensão imediata da fabricação, importação e concessão de registros de produtos que contenham essas substâncias. O prazo para que estabelecimentos suspendam as vendas e profissionais deixem de utilizar produtos com TPO e/ou DMPT é de 90 dias. Após esse período, todo o material deverá ser recolhido.
A proibição tem levantado dúvidas, sobretudo entre manicures e clientes que recorrem a procedimentos associados às substâncias vetadas. Seria o fim das unhas de gel?
O que muda na prática
Vice-presidente regional da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD-RS), a dermatologista Cíntia Pessin esclarece que a proibição não está relacionada aos procedimentos, mas aos ingredientes que compõem os produtos utilizados.
Alongamento, blindagem e esmaltação em gel seguirão liberados, desde que sejam feitos com produtos livres de TPO e DMPT.
— Essas substâncias podem ser substituídas sem que haja perda da eficiência do produto. O meio médico concorda com essa proibição, porque não há motivos para utilizar um componente que pode causar danos à saúde, tanto do cliente quanto do profissional, existindo outras opções melhores — diz Cíntia.
Substâncias proibidas, o TPO e o DMPT são fotoiniciadores que, ao serem expostos à luz ultravioleta (UV), absorvem a energia e iniciam um processo de polimerização. São eles que fazem a unha alongada endurecer e a esmaltação em gel secar rapidamente.
Entretanto, existem outros fotoiniciadores que oferecem o mesmo resultado e podem ser utilizados na fabricação dos produtos para as unhas. É o que explica Alma Frutis, proprietária da Planet Nails, empresa brasileira que produz géis e esmaltes livres de TPO e DMPT desde 2022:
— O mercado tem muitas opções de fotoiniciadores além do TPO e do DMPT. As indústrias da China e da Alemanha, que são as grandes fabricantes desse tipo de químico, há tempos oferecem excelentes alternativas, que asseguram a secagem e o endurecimento com eficácia e segurança.
Alma explica que a decisão de não usar as substâncias em sua marca veio do desejo de oferecer opções mais saudáveis para profissionais e clientes. Além disso, a empresária lembra que o uso do TPO e do DMPT já vem sendo discutido há algum tempo:
— Cada vez mais, o consumidor está buscando opções veganas, que não fazem testes em animais e não oferecem riscos à saúde. Por isso, desde o lançamento da marca, trabalhamos com produtos livres dessas substâncias, acompanhando o debate internacional.
Para ela, a decisão da Anvisa não foi inesperada. A surpresa foi o prazo dado para que o mercado se adeque – 90 dias –, que a empresária considera apertado.
— Será um grande desafio para quem não estava preparado, pois é muito pouco tempo para que a indústria consiga mudar formulações. Sem falar nos estoques comerciais, que certamente estão completos nessa época do ano, a mais aquecida do mercado da beleza — analisa.
Motivos para a proibição
A decisão da Anvisa se alinha aos padrões da União Europeia, que baniu recentemente os mesmos ingredientes. A proibição é baseada em estudos realizados em animais, que mostraram que as substâncias oferecem riscos associados à exposição prolongada.
Nas pesquisas, o TPO foi classificado como tóxico para a reprodução, podendo prejudicar a fertilidade, enquanto o DMPT foi apontado como potencialmente cancerígeno.
O fato de os estudos terem sido conduzidos em animais dividiu opiniões entre profissionais do ramo da beleza, que questionam a efetividade da decisão. Entretanto, segundo a dermatologista Cíntia Pessin, as pesquisas seguem o padrão científico internacional e oferecem dados suficientes para justificar a proibição.
— Qualquer pesquisa de substância ou medicamento começa in vitro, baseada na hipótese bioquímica. Depois, são feitos testes em animais. Uma vez que há alteração, não se pode testar em humanos. Partimos do princípio que, se faz mal aos animais, pode causar dano ao ser humano, e a realização de qualquer teste pode trazer riscos — detalha a vice-presidente da SBD-RS.
A médica explica que as substâncias trazem risco a longo prazo, em razão da exposição repetida. Por esta razão, o maior perigo incide sobre as profissionais, que lidam com produtos que possuem tais componentes de forma mais frequente.
Como identificar as substâncias
Para saber se um produto contém alguma das substâncias proibidas é preciso estar atento aos componentes da fórmula, que precisam estar listados no rótulo.
Os fotoiniciadores podem aparecer das seguintes formas:
TPO
Diphenyl (2,4,6-trimethylbenzoyl) phosphine oxide
Trimethylbenzoyl diphenylphosphine oxide
Óxido de difenil (2,4,6-trimetilbenzol) fosfina
Phosphine oxide
Diphenyl(2,4,6-trimethylbenzoyl)
2,4,6-Trimethylbenzoyldiphenylphosphine oxide
Diphenylphosphoryl)(2,4,6-trimethylphenyl) methanone
Diphenylphosphoryl)(mesityl) methanone
DMPT/DMTA
N,N-dimetil-p-toluidina
Dimetil-4-toluidina
Dimetiltolilamina
N,N-dimethyl-p-toluidine
Dimethylethylamine
4-Dimethylaminotoluene
4-methyl-N,N-dimethylaniline.
A dermatologista Cíntia Bessin lembra que, embora estejam mais presentes nos produtos para as unhas, as substâncias também são encontradas em outros cosméticos. Por isso, a dica é sempre conferir o rótulo das embalagens.
A médica salienta que a proibição vem para proteger a saúde dos brasileiros, conforme a evolução das práticas de segurança sanitária. Assim, deve ser encarada de maneira positiva.
— Isso já aconteceu em vários momentos ao longo da história, com substâncias que inicialmente eram populares, como o mercúrio. O importante é deixar claro que as unhas de gel continuarão sendo permitidas, mas de maneira mais segura — pontua.






























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