Mulher descobre câncer após lesão ao fazer as unhas; entenda o motivo e como preveni-lo
Ferida que não se curava acendeu o alerta dos médicos
Grace Garcia, uma americana de 50 anos, moradora do estado da Califórnia, descobriu um carcinoma de células escamosas em estágio 1, tipo de câncer na pele, após sofrer uma lesão na unha durante uma sessão na manicure.
Segundo o dermatologista responsável pelo diagnóstico e tratamento do problema, Teo Soleymani, da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), o tumor foi causado pelo papilomavírus humano (HPV), uma infecção ligada a diversos tipos de câncer e que pode ser prevenida com a vacina.
Grace procurou Soleymani em abril de 2022. Na época, havia se passado cinco meses desde que sofreu um corte na unha que não se curava completamente. A americana foi orientada a procurar um dermatologista especializado após diversos médicos terem tentado, sem sucesso, tratar a lesão.
O especialista da UCLA realizou, então, uma biópsia que indicou o diagnóstico de câncer causado por uma cepa de alto risco do HPV. Ele afirma que é mais comum o vírus causar tumores como o de colo de útero, por isso o caso de Grace é relativamente raro.
“De um modo geral, as cepas que causam câncer do ponto de vista do HPV tendem a ser mais transmitidas sexualmente. No caso de Grace, ela teve uma lesão, que se tornou a porta de entrada. Então aquela pele grossa que temos nas mãos e nos pés que funciona como uma barreira natural contra infecções e coisas assim não existia mais, e o vírus foi capaz de infectar a pele dela”, disse o especialista ao programa Today, da emissora americana NBC.
Embora a ocorrência seja considerada rara, a grande maioria dos casos de câncer do tipo carcinoma de células escamosas em dedos e unhas – segundo tumor de pele mais comum, atrás do melanoma – é provocado pelo HPV. De acordo com a Fundação de Câncer de Pele e a Academia Americana de Dermatologia, o vírus corresponde a até 85% dos 80 mil casos da doença ao ano mundialmente.
“Curiosamente, quase todos os cânceres de pele com os quais lidei e que envolviam dedos ou unhas foram associados ao HPV de alto risco. Isso é alarmante – e ocorre (principalmente) em pacientes mais jovens”, afirmou o dermatologista ao canal de notícias dos EUA FOX 11.
Para tratar o tumor de Grace, Soleymani realizou uma técnica chamada de cirurgia Micrográfica de Mohs, que permite ao médico observar em detalhes as bordas do câncer e realizar a sua retirada completa. O diagnóstico precoce foi fundamental para uma rápida recuperação, afirmou.
“Como conseguimos verificar 100% da margem com a técnica micrográfica de Mohs, ela não precisa de radiação e nenhum tratamento adicional”, disse ao Today.
Ele explica que os tumores na unha mais comuns, os melanomas, geralmente se apresentam como uma faixa preta ou marrom escura. Já os carcinomas de células escamosas são mais semelhantes a uma ferida que não se cura.
“Sempre que você tem um crescimento que não desaparece em cerca de quatro semanas, essa é a nossa deixa, você deveria consultar seu dermatologista”, orienta.
Vacinação contra o HPV
Soleymani ressalta que quadros como o de Grace podem ser evitados por meio da vacinação contra o HPV. O alerta é importante porque, embora seja comprovadamente eficaz em prevenir a ocorrência de uma série de tipos de câncer, o imunizante tem baixas coberturas vacinais no mundo.
Um alerta recente da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou que, entre 2019 e 2021, a cobertura com a primeira dose da vacina caiu de 25%, que já era baixa, para somente 15% do público-alvo prioritário – meninas de 9 a 14 anos.
Apesar de esse ser o grupo com maior urgência, a organização reforça que meninos também devem ser vacinados, além de mulheres mais velhas que não tenham recebido as aplicações.
No Brasil, a vacina está disponível no Programa Nacional de Imunizações (PNI) para meninos e meninas entre 9 e 14 anos, com duas doses separadas por seis meses. O Ministério da Saúde também oferece a vacina para pessoas de 9 a 45 anos que vivem com HIV/Aids, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea e pacientes oncológicos. Para este público, o esquema é composto de três doses, com a segunda de um a dois meses após a primeira; e a terceira, seis meses após a primeira dose.
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