No que pode ser o maior golpe imobiliário do Estado, construtora teria deixado mais de 1,1 mil pessoas sem imóveis em Santa Maria
Em só um dos edifícios, que têm 139 unidades, a construtora vendeu cerca de 217 propriedades. Ou seja, 78 proprietários podem ter sido lesados na compra dos imóveis, pois o mesmo apartamento foi vendido para mais de uma pessoa
Imagina entregar o lugar em que mora, mais as economias de uma vida na esperança de uma nova morada, e descobrir que você e diversas outras pessoas foram vítimas de um golpe imobiliário que, além de não entregar o imóvel adquirido, ainda duplicou a venda de uma mesma propriedade.
O caso aconteceu em Santa Maria e está sendo investigado pela Polícia Civil. Conforme informações preliminares, estima-se que mais de 1,1 mil pessoas teriam sido lesadas pela Conceitual Construtora, que não entregou nenhum dos quatro prédios vendidos em Santa Maria.
Em só um dos edifícios, que têm 139 unidades, a construtora vendeu cerca de 217 propriedades. Ou seja, 78 proprietários podem ter sido lesados na compra dos imóveis, pois o mesmo apartamento foi vendido para mais de uma pessoa. Por isso, há vários registros de suposto estelionato, e mais de 50 ações judiciais. Só uma vítima perdeu R$ 1 milhão, e há quem cogite mais de R$ 70 milhões de prejuízo total.
A duplicação, em alguns casos até triplicação nas vendas, foi descoberta após a morte do dono da construtora, em novembro de 2023, em um acidente de trânsito na BR-158, quando bateu o carro em uma pedra. Com a demora na promessa de entrega, o empresário pagava multas aos compradores dos imóveis, para pagarem aluguel. Com a morte, as multas deixaram de ser pagas e os clientes passaram a tomar medidas jurídicas. Foi neste momento o rombo foi descoberto.
De acordo com o advogado contratado por algumas vítimas, a maioria dos contratos foram fechados entre 2011 e 2017, com promessa de entrega entre 2019 e 2020.
– Ele pagava (a multa), alguns ele pagava atrasado, outros ele juntava quatro, cinco meses e pagava – conta.
No que talvez seja o maior rombo imobiliário do Estado, para garantir a posse do imóvel comprado, há casos em que pessoas estão indo morar no apartamento mesmo inacabado.
E não é só quanto a moradia que as pessoas foram lesadas. De acordo com o advogado, em um dos prédios, só um box de garagem chegou a ser vendido 40 vezes.
– O pessoal está desesperado. A maioria das pessoas são de idade, de 80 anos para cima. Elas entregaram tudo que tinham. Hoje alguns não têm nem onde morar, eles tinham entregado os imóveis na compra e era o proprietário da empresa que pagava o aluguel onde estavam morando – diz o advogado.
As obras dos quatro prédios estão paradas desde a morte do empresário. Os compradores tentam respostas, e o escritório de advocacia que representa a construtora não teria dado retorno. O Diário também tentou contato, mas não obteve resposta. Funcionários da construtora também buscam na Justiça os direitos trabalhistas.
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