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Reconstrução 3D da boate Kiss usada em júri no RS vira 'memorial virtual' após demolição de prédio

Trabalho foi desenvolvido por equipe de antropóloga da UFSM, com base em relatos de sobreviventes e documentos. Incêndio, em janeiro de 2013, deixou 242 mortos

Com as obras de demolição do prédio da boate Kiss em andamento, em Santa Maria, um projeto desenvolvido por uma pesquisadora da UFSM vai servir como uma espécie de "memorial virtual" do espaço, onde 242 pessoas morreram após um incêndio em 2013. A reconstrução 3D, uma atualização da mesma utilizada pelo Ministério Público como prova no júri de 2021, está disponível para o público em geral (acesse aqui) desde esta terça-feira (27).


A reconstrução do modelo foi feita por 16 pessoas, sob coordenação da antropóloga Virginia Vecchioli. A professora explica que o objetivo do trabalho é servir como forma de preservar a memória a fim de evitar novas tragédias.


"O memorial olha para o passado, mas seu intuito é de servir como uma alerta para o futuro. A memória importa sempre que traga ensinamentos para o futuro, para saber sobre a importância de preservar a vida, de cumprir as leis, de fazer entender que essas tragédias não mais podem acontecer", diz.


Uma das novidades é a inclusão de depoimentos de sobreviventes em pontos do trajeto virtual.


"A compreensão do que aconteceu é resultado dessas diversas experiências que as pessoas tiveram. Porque o que importa é como as pessoas atravessaram, como esses jovens com 19, 20, 22 anos atravessaram esse momento que jamais pensaram que podia acontecer na vida deles. Por isso que a cada ambiente você tem a opção de escutar vários testemunhos", comenta a antropológa.

A reconstrução em três dimensões reproduz os ambientes da boate. No memorial virtual, os usuários poderão "circular" pelo espaço, conferindo fotos do local antes e depois do incêndio, além de informações sobre as irregularidades do prédio, segundo a pesquisadora.


A antropóloga destaca que o memorial vai além de ser apenas uma ferramenta tecnológica.


"A tecnologia é um recurso extraordinário, mas é importante salientar que a perspectiva de para que serve um memorial, o que deve ser colocado em destaque, como fazer isso. A leitura de mais de 300 depoimentos, a realização de entrevistas com os sobreviventes – que são bem difíceis –, tudo isso é competência das pessoas que são treinadas nas ciências sociais, no meu caso, na antropologia social", explica Virginia Vecchioli.

O usuário que acessar a página terá acesso a fotografias panorâmicas em 360 graus, semelhantes às utilizadas em plataformas como o Google Street View. O "memorial virtual" irá receber contribuições de sobreviventes e familiares que desejarem enviar fotos ou relatos do que ocorreu em janeiro de 2013.


"O memorial virtual é concebido como um espaço vivo, aberto em diálogo com a comunidade. Então, todo mundo que quiser compartilhar uma lembrança, dar depoimento, juntar uma fotografia de seus entes queridos, fazer um relato, pode entrar em contato conosco", afirma a professora da UFSM.


A antropóloga é especialista na recriação de cenários onde ocorreram grandes tragédias ou crimes. O trabalho de Virginia Vecchioli já foi utilizado como prova em um julgamento de crimes contra a humanidade cometidos durante o regime militar da Argentina, entre 1976 e 1983.


Natural do país vizinho, a pesquisadora recriou virtualmente um centro de tortura clandestino localizado nos arredores de Buenos Aires, onde cerca de 4 mil pessoas foram presas (veja imagens da reconstrução). Apenas 25 pessoas são dadas como sobreviventes do campo de detenção. Alguns dos assassinados no local eram dopados, colocados em aviões e lançados inconscientes no Rio da Prata, nos chamados "voos da morte".


A fachada do prédio da Kiss foi demolida no final de julho, bem como o telhado e algumas áreas internas. No terreno, vai funcionar um memorial em homenagem às vítimas e feridos na tragédia.


O projeto vencedor é do arquiteto paulista Felipe Zene Motta. O memorial terá uma área de 383,65 metros quadrados, com três salas e um jardim circular ao centro (com 242 pilares de madeira, o nome de cada vítima e um suporte de flores).


Fonte: G1 RS




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