“Cheguei tarde”: Pai de jovem morta com 127 facadas em Alegrete rompe o silêncio e cobra justiça
- Saimon Ferreira

- 5 de ago.
- 2 min de leitura
Eduardo Santos, pai de Eduarda, de 21 anos, assassinada brutalmente pelo companheiro, relata dor, omissão institucional e desabafa: “Ela foi vista ferida muitas vezes, mas ninguém agiu.”

Na última segunda-feira (4), Eduardo Domingues dos Santos, de 63 anos, procurou a reportagem do Portal Alegrete Tudo para, pela primeira vez, compartilhar publicamente sua versão sobre os acontecimentos que antecederam a morte brutal da filha, Eduarda dos Santos, de 21 anos. A jovem foi assassinada com 127 facadas em Alegrete, no dia 31 de julho. O companheiro dela, Lucas Padilha, de 22 anos, foi preso preventivamente e responde por feminicídio.
A entrevista, conduzida ao vivo pelo diretor do portal, Jucelino Medeiros, foi marcada por momentos de forte emoção. Eduardo decidiu falar após ver seu nome envolvido em críticas nas redes sociais que o acusavam de ter sido ausente. Com a voz embargada e visivelmente abalado, ele explicou que tentou ajudar a filha diversas vezes, mas enfrentou dificuldades em afastá-la de um relacionamento abusivo e perigoso.
Eduardo contou que viveu 16 anos com a mãe de suas filhas e, após a separação, ficou com a guarda das três. Eduarda conheceu Lucas aos 14 anos, em uma visita à mãe, e logo iniciou um relacionamento com ele. Segundo o pai, a ligação entre os dois era intensa e marcada por dependência emocional.
“Ela passou a viver em função dele. Não conseguia se desvincular”, contou.
O casal teve três filhos, que foram retirados pela Justiça devido ao uso de drogas. Mesmo distante, Eduardo continuou acompanhando a situação e, em 2024, chegou a receber um vídeo da filha dizendo que queria morar com ele em Rio Pardo. Ele preparou tudo para recebê-la, com passagens e apoio, mas a viagem não aconteceu. A ida estava marcada para 1º de agosto. Eduarda foi assassinada no dia anterior.
“Estava tudo pronto. Eu ia buscá-la. Mas cheguei tarde demais. Ela morreu um dia antes. Eu não consegui salvá-la”, lamentou.
Além da dor pela perda, Eduardo demonstrou indignação diante da inação de órgãos públicos e da sociedade.
“Minha filha apareceu machucada várias vezes, muita gente sabia o que ela vivia. Mas ninguém fez nada. Isso é um tapa na cara da sociedade”, afirmou.
Ele também criticou tentativas de justificar o crime com base em supostos problemas psicológicos do acusado.
“Isso não pode ser usado como desculpa. O que aconteceu foi planejado, foi consciente. Foi monstruoso. Eu só quero justiça — por ela e por tantas outras mulheres que vivem a mesma realidade.”
Hoje, Eduardo permanece em Rio Pardo com as filhas Rosaria, de 18 anos, e Civana, de 16, que ficaram profundamente abaladas com o assassinato da irmã. A filha mais nova já expressou o desejo de entrar na polícia no futuro, com o objetivo de “fazer justiça”.
O crime ocorreu em uma casa no bairro Tancredo Neves e está sendo investigado como feminicídio pela Polícia Civil. A prisão de Lucas Padilha aconteceu no domingo (3), no distrito de Passo Novo, após ele investir contra um policial com uma faca.
A fala do pai de Eduarda expõe a dor de uma família dilacerada e o alerta de que, muitas vezes, os sinais são ignorados.
“Ela foi silenciada. Mas que isso não aconteça com outras. Precisamos agir antes que seja tarde de novo.”






























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