Suposto envenenamento de família deixa bebê e adulto mortos no Piauí
- Saimon Ferreira

- 3 de jan.
- 4 min de leitura
Duas crianças, de 3 a 4 anos, serão transferidas de hospital

Um bebê de 1 ano e 8 meses e um jovem de 18 anos morreram com suspeita de envenenamento em Parnaíba, no litoral do Piauí. Além deles, outros sete familiares passaram mal e foram hospitalizados após comerem peixes doados na noite de Réveillon e um arroz preparado pela própria família e requentado no primeiro dia de 2025.
Dos familiares hospitalizados, três receberam alta (uma adolescente e uma mulher e um homem adultos) e os outros quatro continuam internados (três crianças e uma mulher adulta). Uma das internadas é a mãe de dois meninos que morreram envenenados com caju, na mesma cidade, em agosto de 2024. A suspeita desse crime está presa.
O casal que entregou os peixes foi ouvido na tarde de quinta-feira (2) pela Polícia Civil do Piauí (PCPI). Segundo o delegado Abimael Silva, eles fazem, todos os anos, um trabalho filantrópico no bairro da família. Eles doaram várias cestas básicas e cerca de 30 kg de peixe manjuba, mas somente os familiares passaram mal com os peixes.
Até a última atualização desta reportagem, dez pessoas já prestaram depoimento. A polícia aguarda os resultados dos exames toxicológicos do Instituto Médico Legal (IML), que vão definir a causa da morte do jovem e do bebê e as substâncias que estão no organismo das vítimas internadas. Além disso, vão determinar se havia substâncias tóxicas nos alimentos doados.
Quem são as vítimas?
Manoel Leandro da Silva, de 18 anos, e Igno Davi da Silva, de 1 ano e 8 meses. Ao todo, nove pessoas da mesma família passaram mal.
Elas são:
Manoel Leandro da Silva, de 18 anos (enteado de Francisco de Assis, morto);
Igno Davi da Silva, de 1 ano e 8 meses (filho de Francisca Maria, morto);
Francisca Maria da Silva, de 32 anos (mãe de Igno Davi e irmã de Manoel);
Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos (padrasto de Manoel);
Três crianças (duas meninas e um menino);
Uma adolescente (irmã de Manoel) e uma mulher adulta.
O que eles comeram?

Eles comeram peixe manjuba e arroz. O arroz foi preparado por eles para a ceia de Réveillon, enquanto o peixe foi doado à família.
Quando eles comeram?
O arroz da ceia de Réveillon foi requentado e comido por eles na quarta-feira (1º). Outras pessoas da família, como uma irmã de Manoel Leandro, comeram o arroz na noite de terça-feira (31) e não passaram mal. Já o peixe foi guardado e fritado também na quarta.
Quem entregou a comida?
Um casal ainda não identificado, conhecido por fazer doações de cestas básicas todos os anos, entregou o peixe manjuba para a família. Segundo a Polícia Civil, eles doaram cerca de 30 kg de peixe, mas somente os familiares passaram mal.
Quais foram os sintomas?
Perícia coleta material genético de supostas vítimas de envenenamento
O médico Carlos Teixeira, diretor clínico do Hospital Estadual Dirceu Arcoverde (Heda), onde a família está internada, afirmou que eles apresentaram frequência cardíaca baixa, sudorese (produção de suor) e temperatura elevada.
O perito-geral do Departamento de Polícia Científica do Piauí, Antônio Nunes, também apontou que os pacientes tiveram sintomas típicos de intoxicação por veneno, como cólicas, diarreia, falta de ar e tremores.
Qual o estado de saúde deles?
Manoel Leandro, o jovem de 18 anos, chegou a ser socorrido na quarta (1º), mas morreu ainda na ambulância. Igno Davi, o bebê de um ano e oito meses, faleceu no anexo pediátrico do Heda na quinta-feira (2).
Duas crianças, de três e quatro anos, vão ser transferidas nesta sexta-feira (3) para o Hospital de Urgência de Teresina (HUT). A outra criança, de 11 anos, e Francisca Maria, mãe de Igno e irmã de Manoel, continuam internadas no Heda, em Parnaíba. Conforme o hospital, o quadro de saúde das quatro é estável.
Francisco de Assis, o padrasto de Manoel; uma adolescente, irmã de Manoel; e uma mulher adulta também estavam internados no Heda, mas receberam alta na quinta.
O arroz e o peixe manjuba consumidos pela família foram apreendidos pela Polícia Civil e vão passar por um exame toxicológico do IML, que deve determinar se há substâncias tóxicas nos alimentos.
Quais as substâncias encontradas nas vítimas?
A perícia da Polícia Civil coletou material genético do estômago, sangue e urina do jovem morto, além de sangue e urina dos familiares internados no Heda.
O material vai ser analisado pelo IML em um exame toxicológico, cujo resultado deve sair em até dez dias. O laudo vai determinar a causa da morte do jovem e do bebê e quais as substâncias encontradas no organismo deles e dos demais.
Quem a polícia ouviu até agora?
O casal que fez a doação do peixe manjuba para a família foi ouvido pela Polícia Civil na tarde da quinta (2). Além deles, a polícia também está colhendo depoimentos de outros parentes e testemunhas. Até a última atualização desta reportagem, dez pessoas já foram ouvidas.
Há relação com o outro caso?

Em agosto de 2024, os irmãos Ulisses Gabriel, de oito anos, e João Miguel, de sete, passaram mal e foram hospitalizados após comerem cajus envenenados com terbufós – uma substância tóxica semelhante ao “chumbinho” e usada como inseticida.
Eles são filhos de Francisca Maria, que está internada no Heda, e irmãos mais velhos de Igno Davi, o bebê que morreu na quinta. João Miguel ficou cinco dias internado antes de morrer, enquanto Ulisses faleceu depois de dois meses de internação.
A suspeita de entregar os cajus envenenados às crianças se chama Lucélia Maria da Conceição Silva e tem 52 anos. Ela está presa preventivamente e foi denunciada à Justiça pelo Ministério Público do Piauí (MPPI) pelos dois homicídios qualificados.
Até a última atualização desta reportagem, não houve confirmação de que os dois casos têm relação. A polícia continua investigando a suspeita de envenenamento da família.






























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