Assédio no Carnaval: como se proteger e denunciar casos de violência
- Saimon Ferreira
- 27 de fev.
- 3 min de leitura
Especialista explica como diferenciar paquera de assédio, tipos mais comuns de violência e como agir diante dessas situações

O Carnaval é sinônimo de festa e celebração, mas para muitas mulheres, também se torna um período de medo e vulnerabilidade. O aumento dos casos de assédio durante a folia reflete um problema estrutural da sociedade. Segundo a terapeuta e advogada Mayra Cardozo, especialista em violência psicológica contra a mulher, essa situação está diretamente ligada à cultura do estupro, que normaliza a objetificação dos corpos femininos.
O Carnaval é um evento marcado pela exaltação da liberdade e da expressão corporal. No entanto, dentro de uma sociedade patriarcal, essa liberdade é frequentemente deturpada para justificar abordagens invasivas, explica Mayra.
"A cultura do estupro cria um ambiente onde o assédio é banalizado, especialmente quando se associa a festa a uma falsa ideia de 'disponibilidade feminina'”, conclui a especialista.
Paquera ou assédio? Como diferenciar
Ainda existe uma linha tênue entre flerte e assédio para muitas pessoas. A especialista explica que a chave para diferenciar as abordagens é a reciprocidade. "O flerte respeitoso ocorre quando há liberdade para dizer ‘não’ sem medo. Se um homem ignora sinais de desconforto, insiste após uma negativa ou toca sem permissão, isso deixa de ser paquera e se torna assédio", alerta.
Os casos mais comuns durante o Carnaval incluem beijos forçados, puxões, toques sem consentimento e abordagens agressivas. Além disso, há situações em que homens se aproveitam da multidão para se esfregar em mulheres, um tipo de importunação sexual amplamente denunciado em eventos festivos.
O que fazer se for vítima de assédio?
Mayra reforça que a responsabilidade pelo assédio nunca deve recair sobre a vítima, mas que existem formas de agir para se proteger.
"Caso se sinta segura, a vítima pode verbalizar o desconforto de forma direta e buscar apoio de amigas ou da equipe de segurança do evento. No entanto, é importante lembrar que o medo pode paralisar, e a mulher nunca deve se culpar por não reagir no momento", afirma.
O Carnaval tem contado com delegacias móveis e campanhas de conscientização para dar suporte às vítimas. O Disque 180 é um canal nacional para denúncias e orientações e a Polícia Militar pode ser acionada através do 190 em casos de importunação sexual. Além disso, as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs) oferecem apoio para vítimas de violência.
Presenciou um assédio? Saiba como agir
O apoio de testemunhas é essencial para romper com a normalização da violência contra mulheres.
"Demonstrar apoio à vítima, perguntar se ela precisa de ajuda ou fingir conhecê-la para afastá-la do agressor são formas seguras de intervir. Acionar seguranças ou policiais também pode garantir uma resposta mais efetiva", orienta Mayra.
O que diz a lei?
O Brasil conta com a Lei de Importunação Sexual (Lei 13.718/2018), que criminaliza atos libidinosos sem consentimento, como beijos forçados e toques invasivos, com pena de 1 a 5 anos de prisão. O assédio sexual (art. 216-A do Código Penal) ocorre em relações hierárquicas, e o estupro (art. 213 do Código Penal) envolve coerção sexual com violência ou ameaça.
Blocos de rua x festas fechadas: onde o risco é maior?
Nos blocos de rua, a grande circulação de pessoas e o anonimato dificultam a responsabilização dos agressores. Já em festas fechadas, a responsabilidade dos organizadores em garantir um ambiente seguro aumenta.
"Muitos estabelecimentos adotam campanhas contra assédio e equipes treinadas para agir nesses casos. No entanto, a efetividade dessas ações depende do compromisso real com a segurança das mulheres, e não apenas de iniciativas superficiais", pontua Mayra.
Comments