Entenda como funciona o botão de contestação do Pix e as outras novidades de 2025 no sistema
- Saimon Ferreira

- 2 de out.
- 7 min de leitura
Ferramenta reforça a segurança nas transações e se soma a recursos como pagamento por aproximação, débito automático e a aguardada versão parcelada

Desde a última quarta-feira (1º), os usuários do Pix passaram a contar com uma nova funcionalidade: o botão de contestação. Disponível nos aplicativos dos bancos e também nos extratos de transações, o recurso permite que clientes solicitem, de forma digital e imediata, o bloqueio de valores transferidos em casos de fraude, golpe ou coerção.
A medida fortalece o Mecanismo Especial de Devolução (MED), que já existia, mas até agora dependia de contato direto com a instituição financeira.
O Banco Central (BC) explica que o botão não é uma garantia de devolução integral dos valores, mas aumenta significativamente as chances de recuperar o dinheiro perdido, já que acelera o bloqueio das quantias ainda disponíveis na conta do golpista.
— A ideia é evitar golpes. Antes, era necessário acionar o banco, o que muitas vezes atrasava o bloqueio. Agora, é um autoatendimento. O botão poderá aparecer no extrato ou em área própria do aplicativo, e ao acioná-lo a instituição terá prazo para travar os recursos. Mesmo que a devolução ocorra em etapas, a velocidade amplia muito as chances de recuperação — explica Adriano Severo, analista de investimentos e planejador financeiro da Severo Capital.
Como funciona a contestação
O botão de contestação foi pensado para ser simples e rápido, permitindo que o usuário aja imediatamente ao identificar uma transação suspeita. Segundo Severo, o passo a passo básico é:
O cliente identifica uma transação suspeita no extrato
Aciona o botão de contestação
O banco bloqueia imediatamente os valores ainda disponíveis na conta de destino
A instituição analisa se o caso se enquadra em fraude, golpe ou coerção
Confirmada a irregularidade, os valores são devolvidos ao pagador
Situações que envolvem arrependimento de compra, desacordo comercial ou erro no envio para uma pessoa de boa-fé não entram no mecanismo automático — serão avaliadas individualmente.
Para Raimundo Nonato de Oliveira Filho, presidente da Associação Brasileira de Defesa dos Clientes e Consumidores de Operações Financeiras e Bancárias (Abradeb), o botão de contestação representa um avanço importante na proteção dos usuários.
— A contestação reduz significativamente o impacto de golpes, pois permite que a vítima bloqueie valores de imediato, aumentando as chances de recuperação do dinheiro e dificultando a “lavagem” rápida por meio de contas intermediárias. O mecanismo traz previsibilidade ao usuário, com prazos e limites claros para devolução, e ainda desestimula o uso do Pix como ferramenta por fraudadores. Funciona como uma camada adicional de defesa, dando mais confiança ao usuário comum — detalha.
No entanto, ele alerta que qualquer sistema de reversão pode gerar pequenas brechas. Usuários de má-fé poderiam, por exemplo, acionar a contestação sem motivo, atrasando pagamentos ou simulando golpes. Por isso, o Banco Central desenhou regras rigorosas para equilibrar a proteção das vítimas com a prevenção de abusos.
— Foram estabelecidas regras rígidas, como exigência de indícios claros de fraude, análise pela instituição financeira e prazos específicos de resposta. Assim, embora a contestação possa ser explorada em cenários isolados, seu desenho garante maior segurança para vítimas reais sem criar janelas significativas de ataque — elenca Nonato.
Em resumo, segundo especialistas, o botão de contestação oferece agilidade, segurança e previsibilidade, tornando o Pix uma ferramenta mais confiável para o usuário, sem abrir mão de mecanismos que evitem fraudes abusivas.
Prazo para contestação
Nonato afirma que os prazos são curtos:
a solicitação deve ser feita em até 80 dias após a transação suspeita. Quanto mais rápido o acionamento, maiores as chances de bloqueio e devolução do dinheiro
A instituição financeira tem até sete dias corridos para analisar o pedido e comunicar a decisão. Caso existam indícios claros de fraude, o valor pode ser bloqueado de forma preventiva já nas primeiras horas após o registro da contestação.
Para fortalecer o pedido, Nonato recomenda que o usuário reúna toda a documentação possível que comprove a irregularidade: prints de conversas, anúncios falsos, comprovantes de pagamento, números de telefone usados pelo golpista e quaisquer outros detalhes relevantes.
Esses materiais serão analisados pela instituição financeira e podem ser solicitados a qualquer momento durante a verificação, ajudando a acelerar a devolução dos valores de forma segura.
Exemplo prático
Em um golpe comum, criminosos fingem ser parentes ou amigos pedindo ajuda financeira urgente via Pix. Ao perceber a fraude, a vítima poderá contestar diretamente no aplicativo. Se os recursos ainda não tiverem sido sacados ou transferidos pelo golpista, o banco pode congelar a quantia e devolver ao cliente.
Golpes em alta
O crescimento do Pix também trouxe um efeito colateral: novos golpes. Entre julho de 2024 e junho de 2025, cerca de 24 milhões de brasileiros foram vítimas de fraudes financeiras envolvendo Pix ou boletos bancários, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O prejuízo estimado chega a quase R$ 29 bilhões.
A pesquisa mostra que os crimes atingem pessoas de todas as idades: idosos são os principais alvos de golpes com boletos falsos, enquanto os mais jovens costumam ser enganados em compras online.
Entre os golpes mais frequentes em 2025 estão:
Golpe do falso parente: criminosos se passam por familiares em aplicativos de mensagem, relatam suposta situação de urgência e pedem um Pix imediato
Pix errado: o golpista alega ter transferido dinheiro por engano e solicita a devolução, induzindo a vítima a enviar recursos para outra conta
Coerção em assaltos: sob ameaça física, a vítima é obrigada a transferir valores na hora
Golpes híbridos: criminosos combinam engenharia social (telefonemas e mensagens falsas) com dados vazados na internet para dar credibilidade à fraude
Pix bate recordes
A chegada da contestação ocorre em meio a novos recordes. Em agosto, o Pix registrou 6,9 bilhões de transações, movimentando R$ 3,35 trilhões em apenas um mês.
No dia 5 de setembro, o sistema bateu recorde diário com 290 milhões de transações em um único dia, totalizando R$ 164,8 bilhões. Em 2024, já haviam sido movimentados R$ 26,4 trilhões.
O Pix, que foi lançado em novembro de 2020, tornou-se o principal meio de pagamento do Brasil e já supera cartões de débito e TEDs somados.
Outras novidades no Pix em 2025
Pix por aproximação
Lançado em 28 de fevereiro, o Pix por aproximação trouxe uma experiência semelhante ao uso do cartão físico. Basta encostar o celular na maquininha para concluir a transação.
A novidade também chegou ao comércio eletrônico: em sites e aplicativos, o cliente pode pagar com um clique, sem precisar abrir o app do banco, copiar QR Code ou digitar dados.
No Brasil, o Google Pay já firmou parceria com bancos como C6, PicPay e Itaú, além de 11 redes de maquininhas, incluindo Cielo, Stone e Getnet. A Apple, por ora, não participa.
Para usar, basta cadastrar previamente a chave Pix na carteira digital e autenticar cada operação com biometria, senha ou reconhecimento facial.
Pix automático
Desde 16 de junho, o Pix automático tornou mais fácil pagar contas recorrentes, como luz, escola, academia e streaming. Diferentemente do débito automático tradicional, não exige convênios entre bancos e empresas.
Funciona assim: a empresa envia a proposta de cobrança, o cliente autoriza uma vez e define regras (limite de valor, validade, possibilidade de uso de crédito em caso de saldo insuficiente). Depois, os pagamentos são feitos de forma automática nas datas combinadas.
A vantagem para empresas é a redução da inadimplência; para o consumidor, a praticidade de não precisar refazer a autorização mensalmente.
Validação de chaves com a Receita
Desde 1º de julho, bancos e instituições financeiras precisam validar as informações das chaves Pix diretamente com a Receita Federal. Isso evita que CPFs de pessoas falecidas ou dados de terceiros sejam usados irregularmente.
A partir de 1º de outubro, a exigência se estenderá também para operações de portabilidade e reivindicação de posse de chaves. Caso haja divergências não justificáveis, a chave poderá ser suspensa ou excluída.
Pix parcelado: promessa adiada
Previsto inicialmente para setembro, o Pix parcelado foi adiado pelo Banco Central, que não divulgou novo prazo. A ferramenta é considerada estratégica por permitir que até 60 milhões de pessoas sem acesso ao cartão de crédito possam fracionar pagamentos de compras via Pix.
Atualmente, alguns bancos já oferecem versões próprias, mas sem padronização. A ideia do BC é criar regras comuns para todo o sistema, ampliando a transparência e a competição entre instituições.
Como funcionará o Pix parcelado
O comprador solicitará crédito à instituição financeira, que permitirá dividir uma transação em parcelas
O lojista receberá o valor integral no ato da venda, sem precisar pagar taxa de antecipação
O consumidor pagará as parcelas à instituição, com juros definidos pelo banco
A modalidade poderá ser usada em qualquer transação, inclusive transferências
Diferença para o cartão de crédito
No modelo tradicional do cartão parcelado, os lojistas recebem os valores mês a mês ou precisam pagar juros aos bancos para antecipar o dinheiro. Já no Pix parcelado, o recebimento é instantâneo e sem custo extra, o que tende a ser mais vantajoso para quem vende.
Para o consumidor, a expectativa é que as taxas sejam menores que os juros do rotativo do cartão, que hoje superam 15% ao mês.
Ainda assim, analistas não enxergam a nova modalidade como uma substituição imediata ao cartão. Severo avalia que o Pix parcelado deve complementar, e não ameaçar, o mercado de cartões.
— O cartão ainda transmite mais segurança ao lojista, principalmente em transações de maior valor. O Pix parcelado, por outro lado, abre possibilidades para quem não tem crédito aprovado em bancos ou precisa de soluções mais simples para compras recorrentes. Em uma academia, por exemplo, faz sentido. Mas dificilmente será usado em vendas de alto valor, como a de um carro — exemplifica.
Posições em disputa
Para o setor financeiro, o Pix parcelado é visto como um desdobramento natural da ferramenta. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) avalia que a modalidade pode impulsionar ainda mais o uso do sistema de pagamentos instantâneos.
Segundo a entidade, caberá a cada instituição financeira definir a oferta e os custos do crédito, preservando a liberdade de escolha do cliente.
“Os consumidores continuarão a escolher a forma de pagamento que melhor atenda às suas necessidades. Hoje, o Pix já é o meio de pagamento mais utilizado do país, e a possibilidade de parcelamento pode ser uma nova alavanca para o produto”, destacou a Febraban em nota.
Já para o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), o adiamento da regulamentação pelo Banco Central deve ser aproveitado para aprofundar o debate sobre os riscos. A entidade considera que atrelar o Pix a linhas de crédito sem transparência suficiente pode ampliar o superendividamento, que já atinge níveis críticos no país.
Em nota, o Idec afirmou que, enquanto não há padronização das regras, os consumidores seguem expostos a ofertas de crédito vinculadas ao Pix — mas sem clareza total sobre o custo final das transações.
Para o órgão, a regulamentação precisa garantir proteção contra abusos, reforçar a essência do Pix como política pública de inclusão financeira e evitar que a ferramenta se transforme em uma porta de entrada para dívidas.






























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