top of page

Escassez de gado deve fazer subir o preço da carne em todo o Rio Grande do Sul

  • Foto do escritor: Saimon Ferreira
    Saimon Ferreira
  • 2 de out.
  • 3 min de leitura

A tendência é que os aumentos ocorram em praticamente todas as categorias de animais, segundo análise do NESPro

Foto: Trajano Silva Remates
Foto: Trajano Silva Remates

A escassez de bovinos para o abate provocou o aumento das cotações das vacas na pecuária gaúcha na semana passada. O incremento foi de 1%, segundo apurou o Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro), grupo de pesquisa filiado à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).


E a tendência para os próximos meses é de aumento dos preços do gado em geral, conforme o Núcleo, visto que muitos agricultores que também têm pecuária como renda na propriedade e enfrentam dificuldades financeiras estão se desfazendo de animais antes mesmo de ganharem peso para fazer caixa e realizar a safra de verão 2025/26.


“Houve pouca alocação de gado nas pastagens no inverno. E, normalmente nesta época do ano, pelo fato de ter muito gado gordo, sempre os preços estavam um pouco deprimidos”, descreve Júlio Barcellos, coordenador do NESPRo. “(Mas) isto não aconteceu neste ano por diversos motivos. Entre eles, a descapitalização do pecuarista em decorrência de crises em 2022 e 2023, com preços muito baixos, as dificuldades de crédito.


E também todo esse cenário da agricultura que fez com que muitos pecuaristas tivessem que vender seus gados antes da engorda para outros estados até mesmo”, acrescenta. E a liquidação de gado pelos produtores é principalmente de animais de peso mais alto, para que consigam recursos de maneira mais rápida, e não animais mais jovens, como terneiros. “Então, este número de matrizes que está indo para o abate vai trazer consequências no ciclo produtivo alongando”, projeta Barcellos.


Além disso, os gaúchos têm comercializado terneiros para outros estados e até exportado animais vivos. “Então, se refletiu em uma menor oferta nesta época do ano para um consumo praticamente constante por parte do consumidor, e isso acabou puxando os preços”, argumenta o professor. “Estes preços não foram majorados com a mesma magnitude conforme a categoria animal e nós detectamos, no NESPro, que a categoria que mais repercutiu em melhoras de preços foi a vaca gorda”, complementa.


Numa situação assim, quando o preço dos bois aumentam muito, os frigoríficos passam a comprar carcaças de vacas por um valor, em média, 10% inferior, ainda que não repassem o desconto aos consumidores.


“Esse movimento mais ou menos uniforme por parte da indústria acabou demandando mais vacas nesta época do ano e, com isso, majorou seus preços”, justifica. “E, naturalmente, a carcaça de vaca é obtida no Rio Grande do Sul”. Afinal, mesmo que os frigoríficos tragam carne de outros estados, não conseguem repor a demanda do momento.


“Em primeiro lugar, esperávamos que o percentual de matrizes abatidas no Rio Grande do Sul fosse se reduzindo sensivelmente no primeiro semestre em decorrência de uma reversão de ciclo pecuário, um período de alta, de retenção de fêmeas, algo que não aconteceu”, analisa. “Ou seja, os abates continuam extremamente altos, e isso está se refletindo nas estatísticas”.

Repercussão no futuro


Portanto, descreve, em vez de um período normal de 1 mil dias para a reversão da liquidação ou retenção de fêmeas, possivelmente tal ciclo vá se estender para os próximos quatro anos, ou mais ou menos 1.500 dias. E este cenário pode levar à valorização da cria, o que seria positivo, ao gerar investimentos na pecuária. Além disso, relata Barcellos, diferente dos últimos cinco anos, atualmente as empresas exportadoras de gado em pé estão aceitando a categoria de animais mais pesados, em que falta pouco tempo para o abate.


E importadores deste perfil de animais, como a Turquia começam a comprar animais mais pesados, quando, anteriormente, só levavam terneiros.


“Então, um grande terminador entra no mercado e começa a enxugar essa categoria com aumento de preço. E isso vai acabar valorizando todas as categorias em idades inferiores ao que está sendo vendido”, avalia. “E esta valorização deveremos observar nos próximos três meses do ano, principalmente para animais para recria, mas também nos animais voltados para a reprodução e valorização da cria”, conclui.


Aumento generalizado


Portanto, entende o professor, é esperado que os aumentos ocorram em praticamente todas as categorias de animais, e também puxado pelo preço do boi gordo, que deve entrar em ascendência nas próximas semanas.


“Nós continuamos com escassez de gado, embora a indústria tenha tentado forçar um pouco para reverter este ciclo de alta”, diz. “Mas isso é muito importante para o pecuarista recuperar as perdas decorrentes das últimas crises”, entende.


“E isso, num primeiro momento, pode repercutir num aumento do preço da carne em torno de 3% a 5% para o consumidor final. Mas a médio e longo prazo o sinal é positivo, porque o aumento da produtividade dentro da porteira, puxado por um cenário mais favorável, vai permitir uma oferta mais equilibrada de carne no mercado com benefícios também para a sociedade”.


Fonte: Correio do Povo

 
 
 

Comentários


PUBLICIDADE PADRÃO.png

Destaques aqui no site!

Quem viu esse post, também viu esses!

bottom of page