Preço da carne bovina sobe quase 35% no Rio Grande do Sul em um ano
- Saimon Ferreira

- 23 de set.
- 3 min de leitura
Sem efeitos do tarifaço dos EUA, combinação entre demanda mundial aquecida e caminho de exportação aberto explica patamar atual

O bife de cada dia e o churrasquinho do fim de semana já foram menos indigestos no bolso. O preço da carne bovina subiu 34,8% em um ano no Rio Grande do Sul, comparando-se a variação registrada entre agosto de 2025 e o mesmo mês do ano passado. Conforme dado do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ficou mais caro comer carne, e deve ficar ainda mais.
Uma combinação entre demanda mundial aquecida e caminhos abertos para a exportação explica o patamar atual. Os quatro maiores produtores de carne do mundo, Estados Unidos, Brasil, Austrália e Argentina, enfrentam redução em seus rebanhos. Isso faz com que haja menos oferta, ao passo em que o consumo segue igual. O apetite pela entrega internacional é o que faz explicar, também, o impacto não confirmado das taxações dos Estados Unidos sobre a produção brasileira. Ainda que o consumidor local nutrisse alguma expectativa, especialistas da indústria já alertavam que a baixa de preços no mercado interno não deveria se concretizar.
Coordenador do NESpro, o professor Júlio Barcellos confirma a avaliação. Tão logo se deram as taxações e os compradores norte-americanos puxaram o freio, o Brasil realocou suas vendas para outros mercados, a exemplo do México.
"Como havia uma demanda mundial, o Brasil facilmente redirecionou os cortes para outros mercados após o tarifaço dos EUA. O consumidor que esperava a queda na gôndola não a viu acontecer. Porque não é um efeito imediato", diz Barcellos.
No Rio Grande do Sul, que quase não exporta carne bovina, o efeito da demanda aparece direto no campo. E se associa ao endividamento rural:
"Tem muito produtor que está vendendo gado que ainda não é para abate, aumentando a exportação de gado vivo, o gado em pé. Para o produtor que está sem crédito, se coloca como uma alternativa", lembra o professor.
Além disso, há fatores de mercado que entram na conta. Os preços pagos aos pecuaristas não subiram no mesmo nível dos preços pagos pelo consumidor.
"Se fossem transferidos os ganhos dentro da propriedade, o consumidor deveria estar pagando abaixo do que paga hoje. Ou seja, houve uma apropriação de margens por outros elos da cadeia, como varejo e frigorífico", diz Barcellos.
O cenário de alta é geral nas proteínas, com aumentos também expressivos na carne de frango e na suína, por conta da abertura de novos mercados globais. A alta é de 34,3% no lombo suíno, segundo o NESpro. E de 6,45% no frango em pedaços, conforme pesquisa do IBGE para Porto Alegre e Região Metropolitana. Buscando alternativas para manter o consumo, a assistente de Recursos Humanos Daiane Magalhães, 34 anos, aproveitou uma ida ao Mercado Público de Porto Alegre para garantir as carnes da semana.
Nos supermercados de Canoas, onde mora, diz que os preços estão ainda mais altos. Visitando pela primeira vez a tradicional casa de carnes Santo Ângelo, comprou bife batido e costela suína. O vendedor aposentado Djalma Santos, 69 anos, diz que passou a comprar carne somente quando encontra promoção. Olhou os preços dos cortes bovinos nas bancas do Mercado, mas preferiu levar só o mondongo.
O coordenador do NESpro adianta a possibilidade de uma nova alta de preço na carne bovina, entre 3% e 5%, ainda nos próximos 45 dias, incrementada pelo aumento no preço do boi.
"Certamente os frigoríficos vão transferir ao varejo, ainda como reflexo da escassez, já que o Brasil está exportando muito."
Mesmo com os quase 35% de aumento, o consumo continua estável. São 26 quilos de consumo per capita ao ano no Rio Grande do Sul. Além disso, a predileção pelos cortes está associada ao poder de compra. Se a economia reagir, é possível que a demanda pela carne amplie ainda mais.
Conforme a avaliação do NESpro, os preços dos cortes vêm se comportando sem grandes flutuações na avaliação mensal. Ou seja, a alta de preço entre as variedades analisadas se dá em proporções parecidas.
A carne moída de segunda, uma das mais consumidas, custava R$ 25,70 o quilo em agosto, o mesmo preço já praticado cinco meses atrás, em março. Um ano atrás, custava R$ 18, no entanto – alta de 42,8%. Já a picanha foi o corte que menos subiu de preço. Custava R$ 76 em agosto passado, saltando para R$ 87 em agosto deste ano - variação de 14,5%. Em março, custava R$ 100.






























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