“Sob a bênção de Abel Carlos da Silva Braga.” por Fabio Giacomelli
- Saimon Ferreira

- 13h
- 3 min de leitura
Abel Braga desafiou a lógica, levantou o Colorado e devolveu-lhe a alma

A coluna de hoje é uma coluna de alívio. Um alívio que pesa, que treme, que atravessa o
peito como quem finalmente respira depois de semanas submerso.
Alívio porque o Inter se salvou do rebaixamento nos 45 minutos finais do campeonato; alívio porque, até hoje, ninguém que chegou à última rodada em 18.º lugar escapara da degola; alívio por ver que a coragem teimosa do abnegado Abel Braga, que largou o conforto do seu sofá para atender ao chamado do clube da sua vida, deu resultado; alívio porque colorado nenhum merece passar por isso. Sobretudo o torcedor, esse eterno teimoso que faz e gasta o que não pode, que carrega no lado esquerdo do peito não um escudo, mas uma história pulsante.
Foi sofrido, foi tenso, mas no fim “foi lindo, cara”, para usar as mesmas palavras de Abel.
Lindo por estragar a festa daqueles que, em vez de celebrar o próprio clube, preferiram investir energia, tempo e dinheiro para torcer contra o Inter.
Lindo por ver a mídia identificada do rival transmitir não somente o seu jogo, mas o nosso e dos rivais pelo descenso. Lindo por assistir, em tempo real, seus semblantes derretendo em desgosto, incredulidade e silêncio constrangido. O Inter não desistiu e os secadores dormiram com um gosto amargo na boca. Alguns, talvez, ainda estejam gargarejando.
E aqui, neste domingo que o coração saberá guardar por anos, ecoam as palavras eternas de Emanuel Neves, que embora escritas num contexto oposto, estiveram comigo durante todo o dia de ontem:
“Naquele dia, eu acordei sem ter dormido. Como nas últimas semanas, meu trabalho não rendeu. Sarcástico, o relógio fazia troça da minha cara, dando passos para trás.” (Neves, 2006)
E como discordar? Cada colorado viveu essa crônica na própria pele. O relógio zombava. O tempo não passava. A angústia era o nosso marcador.
“No intervalo, ninguém podia imaginar o sofrimento reservado para o segundo tempo.” (Neves, 2006)
E, de fato, ninguém imaginou. Ninguém previu o peso daquela etapa final, onde cada
lançamento parecia sentença e cada recuperação, uma promessa.
“O filme de todos os fracassos e derrotas do Internacional passou na minha mente.” (Neves, 2006)
E passou na de todos nós. Porque a história do Inter é tão grande que os calvários também são proporcionais.
Mas ali, enquanto o filme rodava, nós tínhamos Abel Braga. O treinador campeão do mundo.
O homem que largou tudo para viver uma oitava passagem no clube porque, talvez, só ele
acreditasse (de fato) que era possível.Aceitou vir sem receber um tostão. Veio porque sente.
Veio porque é. Veio porque Inter e Abel são duas narrativas que se confundem e uma explica a outra, como se a própria história do clube necessitasse, vez ou outra, de um capítulo escrito pela sua figura mais humana e mais emotiva.
Abel não treinou apenas o time: ele puxou a dignidade pelo colarinho. Ele lembrou ao grupo,
e a nós, que o Inter é um clube que cai, mas não se entrega; que sofre, mas não se encolhe;
que sangra, mas não desiste. A permanência foi conquista, mas também foi exorcismo. Um
renascimento que só podia acontecer no Beira-Rio, “sob a bênção” de quem mais entende de ressuscitar este gigante.
E, se me permitem, deixo aqui mais uma frase de efeito para o que vimos neste domingo: há vitórias que dão taça e há vitórias que devolvem alma. Hoje ficamos com a segunda.
E, como diz Emanuel Neves e para que nunca esqueçamos:
“Mais do que ontem e menos do que amanhã, eu sempre serei Sport Club Internacional.”
E é isso. Hoje, mais do que nunca. Amanhã, mais do que hoje. Para sempre.
Por Fábio Giacomelli, jornalista e host do Podcast Conversas Coloradas






























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